sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Soneto do Desdém




Sem saber que tu eras fruto da malícia
Triste fui por breve tempo, e à revelia
Ao deixar-me arder nas brasas de uma inércia
Retirada enfim danosa fantasia...

Mas a aurora renascida na distância
Foi legado de uma alma que queria
Recobrar-se num crescendo de elegância
Ao safar-se da penumbra e a chuva fria...

Do passado, a leve sombra que desenha
O desdém de um dar de ombros, gesto largo
Já remove do meu ar esse feitiço,

Da dolência deste canto o tom amargo:
Uma dor, que se existiu, deu-se ao sumiço
E a alegria que me inspira e que me empenha!


Francisco Settineri.

sábado, 22 de setembro de 2012

Pantomima




Do esquecimento frio, que poderia
Trazer de novo a paz ao velho alento
Restou apenas pó largado ao vento
E o nojo atroz em plena maresia...

Mascara-se o algoz na confraria

Que audaz já decapita o sentimento,
Galope que inaugura o violento
E atira aos céus quebrada urna vazia...

A praga da memória que desmaia

Naufraga movediça nos meus medos
Que boiam entre escolhos nesta praia

Por entre malhas, algas e enredos:

Nos céus, a tempestade grita a vaia
E a vaga que arrebenta em teus rochedos!


Francisco Settineri.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Noturna




Apresenta-te
a bordar o contorno
com a ponta
da língua
.

E revela,
no jogo dos contrastes
o caminho das sombras
enquanto alvorecemos.
.

Mas espera
que o balé improvável
esgote os cetins amassados
até o cansaço...
.

Então costura
nas minhas costas
novelos em transe.
.

Com a simplicidade dos atropelos
que te devoram.
.



Francisco Settineri.

sábado, 15 de setembro de 2012

Imperiosos




Eu sei bem, amor, que escapas desse barco
Pois não queres qualquer um que brando amasse
Mas desdenhas do elogio a sua sintaxe,
Não convém ser flor amada por um fraco...

Eu também não quero dama presa ao asco
Da tolice de deixar-se a quem a abrace;
Em volúpias de arrepios eu quero enlace,
Em simplório espelho, então, jamais te toco!
 
Mas se voo agora em tanto devaneio
Foi por não saber fugir sem mais da vida
Na loucura de encarar sem ter receio,

Turbilhão ao te pegar tão distraída,
Ao tragar o mel dos versos no teu seio
E rasgar feroz o sonho na partida!


Francisco Settineri.

O SOM DO SILÊNCIO

.   Fim da tarde, o sol se esconde, E, por fim, a lava escorre Deste Etna que não morre, E que vai não sabe onde... . O fogo parece fronde. ...