sábado, 27 de junho de 2015

noite




olho para os teus cabelos
e para os teus olhos que brilham
tuas palavras são rápidas
e detenho-me em algumas delas
suor caravela divindade cristal
não entendo a metade
apenas repouso penso ouço
o timbre metálico das sílabas
amor é descompasso
me desnudo surdo cego
passo a mão, adivinhando teu rosto


Francisco Settineri.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

perto longe




eu vim
trazer
de novo
um ramo
ao ninho
eu canto, e chega a noite, eu te acarinho
.
Francisco Settineri.

domingo, 7 de junho de 2015

memórias de uma vida decepada

 
.

pois então um dia na minha antiga casa na rua guilherme schell apareceu um camarada que eu conhecera e que cursara biologia na época em que eu publicava livros de poesia independente e simplesmente invadiu a tarde ele tinha feito o doutorado em evolução e dava aulas numa universidade no nordeste e se lembrava de mim e estava visitando a cidade de sua família tinha comprado uma tradução de Safo e vinha me dar autografada só queria antes xerocar o livro pois também queria ler e eu não entendia bem o momento eu estava na associação psicanalítica eu tinha deixado toda a poesia para trás eu era casado moço bem posto na vida com atestado de bons antecedentes psicanalíticos e me analisava com uma lacan de saias e também queria ser um lacan de jeans no meu consultório no moinhos de vento ah meu deus que babaquice o mesmo lacan que tinha um irmão padre e que tomava água benta com gelo e limão e lia as encíclicas de paulo sexto e delirava demais e eu não me lembrava mais da minha vida de poeta e tinha deixado tudo de lado foi foda eu quase abracei o camarada eu devia ter abraçado o louco que se lembrava com tanto carinho de mim e me dava Safo de presente eu simplesmente deixei de lado e o tempo passou eu nunca mais vi o amigo que tive e que me amava e deixei de lado meio que com medo que meu passado me afetasse e agora tudo voltou


Francisco Settineri.

palavra presa



Quando as palavras se acumulam
deslumbradas com a possibilidade de serem proferidas
e impacientam-se prontas ao menor movimento da boca
a ganhar do mundo a vastidão
É assim a espera de ser dita
ser pronunciada
o destino da palavra
da palavra viva
a palavra brusca
sem descanso para sair
falada
enunciada
Como é difícil para o verso enquadrar tropa tão dessemelhante tão ávida em se encher de vida
no próprio pronunciamento
a possibilidade doida de ser
deixar de ser calada
de finalmente ser largada solta
esperando uma compreensão
que só vem com o corte
com o ponto
que precipita um mundo
ainda não dito
com um peso de morte
Como o golpe fatídico de um ato
Poema que não se compôs
que não conseguiu governar uma fala
que não saiu
a não ser da sofreguidão
bagual que não conhece pontuação nem rédea
cavalo redomão
mulher em estado puro
nem sujeito
nem objeto
puro feminino sem freio.
Espero um sopro
uma possibilidade.
Torneio francês
um não de cada lado
a palavra se acomoda e sai chistosamente ao relento
criada incriada e criadora
sem igual
puro aço
lâmina
carapaça
espaço
memória
como mundos em explosão



Francisco Settineri.

O SOM DO SILÊNCIO

.   Fim da tarde, o sol se esconde, E, por fim, a lava escorre Deste Etna que não morre, E que vai não sabe onde... . O fogo parece fronde. ...