domingo, 7 de junho de 2015

palavra presa



Quando as palavras se acumulam
deslumbradas com a possibilidade de serem proferidas
e impacientam-se prontas ao menor movimento da boca
a ganhar do mundo a vastidão
É assim a espera de ser dita
ser pronunciada
o destino da palavra
da palavra viva
a palavra brusca
sem descanso para sair
falada
enunciada
Como é difícil para o verso enquadrar tropa tão dessemelhante tão ávida em se encher de vida
no próprio pronunciamento
a possibilidade doida de ser
deixar de ser calada
de finalmente ser largada solta
esperando uma compreensão
que só vem com o corte
com o ponto
que precipita um mundo
ainda não dito
com um peso de morte
Como o golpe fatídico de um ato
Poema que não se compôs
que não conseguiu governar uma fala
que não saiu
a não ser da sofreguidão
bagual que não conhece pontuação nem rédea
cavalo redomão
mulher em estado puro
nem sujeito
nem objeto
puro feminino sem freio.
Espero um sopro
uma possibilidade.
Torneio francês
um não de cada lado
a palavra se acomoda e sai chistosamente ao relento
criada incriada e criadora
sem igual
puro aço
lâmina
carapaça
espaço
memória
como mundos em explosão



Francisco Settineri.

Nenhum comentário:

O SOM DO SILÊNCIO

.   Fim da tarde, o sol se esconde, E, por fim, a lava escorre Deste Etna que não morre, E que vai não sabe onde... . O fogo parece fronde. ...