Capítulo triste

 

Vou sentir muito a tua falta, menina,

Dos tempos em que eu te olhei com fulgor...

Terá sido fantasia, ou amor?

A falta de tua voz, tão feminina!

 

Foste do meu coração inquilina,

Pois o meu sonho me fez pecador

Mas eu, muito intenso, a todo o vapor,

Amar-te-ei muito quieto, em surdina.

E depois, porque me conquistaste, 

Fez-me sentir-me como um imperador?

Ficaste desconfiada com o rumor,

As línguas ferinas foram um traste

Me trocaste por um sonho qualquer;

Em meu canto, nunca hei de ceder!

.

Francisco Settineri.

 

MAGIA

 

Não deixes que o poema caia na rua,

Que a magia do corpo seja um poente,

Canta, canta essa canção que é só tua.

 

Embora saibas que ela nasce na lua,

Bendito seja, e que não caia doente,

Não deixes que o poema caia na rua.

 

Por mais que tenhas verve, um dia recua

Da singeleza que se tornou semente:

 Canta, canta essa canção que é só tua!

 ,

A verdade, quando vem, é nua e crua,

Mas só não pode ser dita inteiramente,

 Não deixes que o poema caia na rua...

 

Não se chega a ela com uma gazua,

Porém, com muito esforço e plenamente

Canta, canta essa canção que é tua.

 

Que a lira do Oriente cante em meia-lua,

Segue o te caminho, e, galhardamente

Não deixes que o poema caia na rua,

Canta, canta essa canção que é só tua!

OLHA-ME

 

Entenda-me! Olha diferente, agora!

Que meu amor por ti sempre foi agudo

Mesmo quando ele me deixa um tanto mudo,

Mas a flor do meu desejo é que aflora!

 

Olha-me, como se fosse vez primeira, 

E tu sabes que eu te amo feito louco,

Mas eu não posso viver sem ti tampouco,

Porque te quero, tão triste e tão primeiro...

 

O luar da minha aldeia me acompanha

Mas encara o meu cantar tão vagabundo,

Pois por ti, andaria até o fim do mundo

E dedicaria a ti essa façanha.

 

Façanha de seguir-te e só para olhar

A tua régia, doce e verde pupila,

Ver o quanto esse olho doce mais cintila,

Que se perde em mim bem mais que um amar!

.

Francisco Settineri.

 

CENA

 

Com flores nas mãos,

Lágrimas nos lindos olhos,

Guardo-te no peito... 

 .

Francisco Settineri.

DOLÊNCIAS

 

 

Teu silêncio, em teu sorriso

Deixa marcas no meu peito

Era flor de amor-perfeito

 

.

Francisco Settineri.

TRIPLO TURNO

Meu afeto por ti é um mar profundo

E o brilho de uma estrela a cintilar, 

que faz a minha lira se arrastar,

Até que chegue o verso moribundo.

Não deixo de te amar nenhum segundo,

Não quero em nada te desperdiçar.

Nossos filhos eu hei de embalar

Com cantos do meu verso vagabundo...

 

Pois sinto sempre a falta de tua pele,
Nostálgico, eu fico sem saída,

Nessa presença de meu braço imbele.

 

Mesmo que voltes ao lar, abatida

Do duro trabalho que tens, aquele

Que abre o coração, feito ferida! 

.

Francisco Settineri.

 

 

GUEIXA

Menina, o teu olhar

descortina morros e campinas.

Como te tirar do coração?

.

Francisco Settineri.

ASTRONAUTA

 

É quando a noite vem, minha menina,

Que eu sinto, tanto e muito a tua falta,

E voo, pelo escuro, cosmonauta,

Querendo a bela vista, cristalina

 

 Do fundo de tua alma feminina,

Do jeito com que te pões na ribalta.

Começo a tocar a minha flauta

Em meio à luz esparsa da neblina.

Quero muito te encontrar na descida,

E ter tuas coxas e teu seio belo.

Assim despida e assim vencida,

Solitária dentro do teu castelo,

Pois presa de uma ânsia desmedida

Ofertas para mim os teus cabelos!

.

Francisco Settineri.

 

 

CANÇÃO PARA JACIRA

 

A poesia deita-se aos teus pés,

Jacira, e o verbo se transforma adjetivo,

Em tuas mãos ele se torna cativo

E sobe, como se fosse maré.

 

Mais escuro do que um Abaeté,

O verso surge como primitivo,

É o avatar da verve, sensitivo

E sobe, como se fosse maré...

 

Ontem mesmo eu já li um teu poema

Que me deixou, assim, meio calado,

Com o meu coração descompassado

 

A tentar resolver o teorema.

Mas em nada eu fiquei desamparado,

Em teus versos vi a tez e o tema!

.

Francisco Settineri.

 

VERSOS PARA CLARA SEDOVA

 

 

Procurei-te por toda a minha vida,

Mas fui te conhecer nesta doença 

E o meu amor por ti foi sem licença,

Mas tu és para mim a prometida,

A gloriosa, ainda que abatida.

Mas sinto no meu peito a tua presença

E entro na tua vida sem  licença,

Porque tu és, pra mim, a mais querida.

 

Eu sonho, em teu sorriso, em plena espera,

Tenho sempre por ti o mesmo apreço,

Enquanto aguardo aflito a primavera...

Meus versos têm sempre o mesmo endereço,

Estar sempre contigo em mesma esfera,

E encontrar meu fim no meu conheço!

.

Francisco Setttineri.

IARA MENINA FINA

 

 

 Soberba fonte de versos que não para

e que saltam dessa face esplendorosa,

Também sabes que tu ficas silenciosa;

Além disso, dá-se os ares de avis rara...

 

Pois sais da beira-mar como uma Iara

E tu sabes muito bem que tu és formosa.

A aura que sai do teu corpo é gulosa

De tudo o que muda sempre, e é clara

A tua intenção de não ser amaro.

O vigor da tua lira intermitente,

Que teus olhos de mulher deixam preclaro,

Teus versos espontâneos vêm na torrente,

Te mostras, muitas vezes, em desamparo

E o vezo que viceja em ti é vertente!

.

Francisco Settineri.

 

NOSTALGIA

 .    .    .                  A Clara Sedova

.

Se o teu cheiro é bem melhor do que o das rosas,

Não precisas mais roubar o seu perfume.

Apenas basta apagares o teu lume

E me deixar saborear a laboriosa

 

Dama que é guerreira e muito primorosa

E que isso se transforme em costume

Do alvorecer até a noite, o negrume,

Teremos uma vida boa e gloriosa!

 

Andaremos de mãos dadas pelos campos,

Teremos um horizonte sem limites

À noite, nós veremos os pirilampos,

 

Pois eu terei por ti o mesmo apetite...

Não sentiremos medo pelo relampo,

Isso não é só um amor, é um convite!

.

Francisco Settineri.

MENINA POEMA

                                                             A  Clara Sedova

.

Eu sinto que, com o passar do tempo,

Mais aumenta em mim, por ti o carinho.

Vontade de estar contigo no ninho

E o sentimento não é a destempo. 

 

A vida, amiga, não é um passatempo.

Eu quero te amar bem devagarinho,

Contigo não há espaço para espinhos,

Sem mais que pétalas, sem contratempos...

 

Mil perdões pelo ardor pecador,

Menina, eu fui com muita sede ao pote,

Eu mereço muito mais que um chicote,

 

Por minha falta total de pudor.

E uivo pra lua como um coiote,

Releio um poema teu sobre o amor!

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Francisco Settineri.

MÁSCARA

 .

 

Os olhos pintados,

os rubros lábios...

Na tarde nublada

Eu vejo teu retrato.

.

Francisco Settineri

MARESIA

 

Há um toque de magia em teu olhar,

Mas na boca, um trejeito de sorriso.

Eu não sei como eu não perco o meu juízo. 

Eu te quero, mas é impossível disfarçar

 

O grão de loucura é mais que salutar,

Quero alegria, quero te ver no riso

Do grande prazer do corpo, o paraíso

E te vendo conjugar o verbo amar...

 

Depois, que ver contigo o mar sereno,

Cheio de conchas, mas sem nenhum escolho,

Quero beber de vez todo o teu veneno

 

E não estacar em frente de um abrolho,

Olhar com ternura o teu pé pequeno

E vou clamar que é a vida que eu escolho! 

AMOR NA PRAIA

 

                                A Jaqueline

 

A menina em flor, bela Jaqueline,

Era feita de ondas sobre ondas.

Porém, nessa falta de vitrines

Eu pertenço à doçura do bom cine...

 

A menina em flor, bela Jaqueline,

Era feita de ondas sobre ondas.

Porém, nessa falta de vitrines,

Eu posso me devotar à cabine,

 

Onde te vejo, bela Jaqueline.

Eras feita de ondas sobre ondas,

Porém, nessa falta de vitrines,

Eu posso me me devotar à cabine

Onde vejo, pois, e nada previne

Que a minha vida, em eterna sonda

Eras feita de ondas sobre ondas

E por mais que corresse nessa ronda,

Não há nada que o meu amor previne,

O mais de uma onda enfim redonda!

.

Francisco Settineri.

 

O LIVRO DE JACIRA MUNDURUCA

Escorreitos são os versos de Jacira,

Belos são, como a flor de amor-perfeito

Impecáveis, ainda que sem-jeito

Descem dos seus dedos, e a dor respira.

Não! Nada que se oponha à sua lira,

Não se pode botar nenhum defeito,

Inda mais prum poeta, que é afeito

À verdade do verso sem mentira!

Jacira me mandou livro segundo,

Com versos que deveras me alucinam,

Que logo a minha dor afugentam,

Vibram no coração, tão vagabundo...

Conversam com minh'alma, e apascentam

O coração, de há muito fecundo!

.

Francisco Settineri.

Clara Sedova

 

 

São duas horas da manhã

E a tua alma me incorpora.

Lúcida, doce e alba.

Quente, como febre terçã!

.

Francisco Settineri.

RESPOSTA A JACIRA MUNDURUCA

 

 

Levando, com Netuno, o desengano,

De ser, de per si, um belo planeta,

De fazer troar todas as trombetas,

Assim, como poeta, um bom aluno.

A buscar o momento oportuno,

De anéis, desenhados com caneta,

Eu ergui, te confundo com cometa

A brilhar no cais, como bom aluno!

Eu olho essa beleza tão cruel,

De um deus que tinha asas nos pés,

Que governavas peixes e marés...

Mas nunca precisou de um corcel

E nunca se misturou à Babel

Dos homens, mesmo de um pleno pagé!!!

.

Francisco Settineri.

MAMÃE

 

Entrando brava,

de salto dez

na minha escola

primária.

 

O nome da diretora 

era Ondina Coelho.

 

Tua falta é de arrancar o coração!

 

TARDE

 

 

Coroada de rosas,

feliz com o abraço apertado

Andamos de mãos dadas

.

Francisco Settineri.

FLERTE

.    .    .    .    .    .    .    .. A Clara Sedova

.

A flor estava ali, bem na frente,

E tu só olhavas para mim.

Da loucura, eu tinha um grão doente,

Mas eu sabia que não era o fim!

.

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Francisco Settineri.

PRA AQUELA DAMA DOMINADA

Eu amo os teus cabelos belos

E tudo que vem, minha amada,

O teu coração, açodado

Em tua blusa, em amarelo.

A Dama que vem do castelo

Tem seu olhar desamparado

Lágrimas no rosto banhado

Pra mim, um lúcido flagelo,

Que não tem senão a saída,

A não ser vir ao meu castelo,

De ajoelhar-se, em ar singelo

E dar-se, na vinda e na ida,

Saída que foi do flagelo

De não ter sido nada, em vida!

.

Francisco Settineri.

CANÇÃO DE AMOR PARA CLARA SEDOVA

Tua pele, Clara, é muito clara

E os cabelos são castanho-escuros.

Prometem a delícia do futuro,

Porque pra mim tu és mais do que cara.

Mas olha para mim, menina, e repara

O meu grande amor, mais do que maduro,

Eu nada quis de ti que fosse impuro,

Menina, olha pra mim, e repara!

Tua pele, Clara, é muito clara,

A graciosa mão de veias infladas

E teu olhar pra mim é cara a cara,

Pois o teu sexo, para mim, desampara

Inda deixa a minha alma assustada,

Tu serás minha, eu sei, e tomara!!!

.

Francisco Settineri.

DULCINEIA

Eu não queria dizer o quanto,
O quanto te venero com fervor.
Será sonho, ilusão ou amor?
Não saberia dizer, por enquanto.

Porquanto tu recebes o meu canto,
Quero voltar a ser o morador
E sentir novamente o teu calor
E fazer cessar assim o meu pranto.

Porque eu te quis muito desde o começo,
Não sais do meu pensar nenhum minuto
 Pensar que o meu amor tem endereço

Não faz de mim poeta diminuto
Continuas a ter de mim o apreço,
É meu imperativo absoluto!
.
Francisco Settineri.

A LEON

Com os olhos presos ao teu sorriso,
Repleto de uma alegria bem farta,
Desponta, com mais alegria e siso,
O estandarte da bandeira da Quarta!
.
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Francisco Settineri.

UM BOTÃO CRIANÇA QUE SÓ QUER PARTIR

O rubro botão de rosa aí se lança
E demora-se um pouco antes de partir,
Seu espinho, que vem junto, é a vingança

Castigo que não se pode prevenir.
Mas, enquanto isso, tu danças, tu danças.
Tu danças porque não podes fugir...

Lembro as cantigas de roda das crianças
Pétalas vivas que inda querem se abrir
E só querem permanecer na lembrança

Posto que é melhor florir do que ferir!
.
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Francisco Settineri.

VIA LÁCTEA

A noite foi intensa.
Viajamos de mãos dadas
Pela via Láctea...
Acordei e vi os teus belos cabelos
E a vida  nos sorriu, pela manhã! 
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Francisco Settineri.

POEMA CLARO

                                       a Clara Sedova

.
Meu desejo por ti está guardado, 
Porém do lado esquerdo do meu peito,
Ele está preso, eu sei, mas de um jeito
Que parece que está ali, sequestrado.

E por mais de mil cores, nuançado,
Ele me deixa, assim, sem qualquer jeito...
Mas um amor, demais, de tão perfeito,
Me parece que já foi conquistado.

Eu acho que fui teu desde o começo,
Conjuguei meu amor no imperfeito
E de um só golpe foi o arremesso,

Sem nenhum temor aos céus, e aceito
Pois eu fui no teu coração travesso,
Sem defeito, cheguei a ti desfeito!

.
Francisco Settineri.

NOITES NA SICÍLIA

Anoitece na cidadela,
O Etna se derrete em lava
Aproximo-me da donzela

Mas de oitava e mais oitava,
Eu chegava em som junto a ela
Cantava uma canção singela

Eu era quem a visitava
E sempre era eu que voltaria
Porém na minha caravela

Era sempre eu que ansiara...
.
Francisco Settineri.
 

CENA

A tarde passava devagar.
A moça estava na janela,
E eu levei uma flor para ela.

O amor anoitecia
Enquanto adolescias...

.
Francisco Settineri.

SENHORITA

O dia estava ensolarado.
Caminhamos pelo campo de mãos dadas
Trocamos palavras doces...

.
Francisco Settineri.