LÁGRIMA

,

Apesar
de notar,
rechaçar,
celebrar
e secar
tua lágrima
desabada
no meu chão,
anoiteço.

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Francisco Settineri.

Demora, impassível demora

Braços feitos pra me abraçar,
A menina já se demora,
Minutos já não veem a hora

Pra escorrer do rio para o mar...
Os braços, feitos pra me amar,
São os braços de uma Senhora

Que eu não quero que vá embora,
Com quem eu possa celebrar,
Que seja como a rica flora

E venha o mundo a desabar!

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Francisco Settineri.

DAMA QUE ME RETIRA TODA PAZ

Coroas-me de louros, minha bela
E de louros que não mereço mais
Porque não consigo ficar em paz
Enquanto não te pinto em aquarela.

Como captar tua beleza que sela
Minha sede e minha fome voraz
E que me deixa impedido, e capaz
De me prostrar aos pés daquela estrela.

As flores, cores, almas e sonetos,
Que vêm em meu auxílio, na alvorada
E são mais, muito mais do que secretos,

Levantam-se a saudar a namorada.
A sorrir, e de um jeito muito quieto,
Mas a dizer algo bem mais que nada!
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Francisco Settineri.

Menina bela da querência

Menina bem-posta na vida,
depois de ter grande sofrência
Pela juventude perdida.

Tu me provocas demência,
Quando ameaças tua partida,
E chego na impertinência

De te ver, numa despedida,
Te ver dançar em outra cadência.
Minha voz fica reduzida

Porque eu me desfaço em dolência... 

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Francisco Settineri.

Depois, bem depois de nascer o siso

Hoje acordei no teu belo sorriso.
Ora, menina, esse olhar já me escolta
Na minha grande e severa revolta
Por sermos expulsos do paraíso.

Mas eu não sou, meu bem, nada narciso,
Apenas quero te ver bem envolta
E, apesar deste tempo, bem solta,
A te desfazeres em grandes risos!

Vem logo pra mim, que eu te quero tola,
A deslizar rosada no infinito,
Mas nada de nada o caminho atola

Nas voltas deste espaço irrestrito.
Iremos  de mãos dadas, sem parola,
Pois longe de ti eu me ponho aflito!

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Francisco Settineri.

Quando me olhas

De onde, menina,
Veio esse teu sorriso
Agridoce?
Por que caminhos
largos, tu circulas,
Mas estreitos para a tua
Alma grande?

Fala, menina,
Fala dos teus medos
Teus sonhos
Tuas esperanças,
fala de teu tédio
E de tuas experiências...

Dize, com denodo,
O quanto estás presente
Em mim,
Alma quente
Com
Alma quente!

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Francisco Settineri.

Mas me perdoem as feias

Agora, que já anoitece
Cores bordejam aleias
E que perdoem as feias
Pois sou frio, ao que parece

Coa feiúra, que padece
Como quem perdeu as meias
E tem ares de baleia,
Mundo triste que anoitece...

Belas nascem com a noite,
Com a noite amanhecem,
Quando corre o tenso açoite

E as flores aparecem.
Recortada a tua noite
Fantasmas desaparecem!
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Francisco Settineri.
 

Devoradora, mas distante

Andrômeda, galáxia bela,
Que é, no céu, muito brilhante,
Fora antes uma donzela

Que tinha o olhar cintilante
E muitos lutaram por ela,
Perseu foi um feroz gigante

E com ele, a bela donzela
Salvou-se, sim, dali por diante,
Dos embargos e da procela

E da inveja dos meliantes!
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Francisco Settineri.

Sonhos

A menina esperta e cheia de brio
Vestido floreado, lágrima seca, 
ela não se curva em direção a Meca.
Traços de latina e olhar de boneca,

Fez meu coração encher-se de fogo,
Que me incendeia até o sol nascer.
Palavra complicada, o renascer,
Mágica tua, que não requer rogo.

Mas eu, quando te tomo em feros braços,
Só te soltava quando o sol nascia
E, de tanto nascer, em chuva fria,
Tomei o teu cabelo em belos maços!

E o teu coração faz parte de mim.
Mas não foges de mim, estranha sorte, 
Começa na vida e acaba no corte
E o devaneio na noite sem fim!
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Francisco Setttineri.

Eu quero muito os teus sabores

Olha, menina, olha agora
Que te trouxe um buquê de flores.
Eu sei que as flores tu adoras,

Flores trazem consigo as cores,
Ali onde a pétala mora
E moram com ela os amores.

Eu sei que as flores tu adoras,
Quero de ti também as dores, 
Saber onde a minha pastora

Manda rufar todos tambores!!!
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Francisco Settineri.

A todo vapor

Nunca mais vai ter um ano como este.
Não mais, nunca mais vai ter um dia assim.
Vai haver outros dias, é inconteste,
Em que vou sentir mais saudades de mim....

Porque correm, eu sei bem, de Oeste a Leste,
Essas lágrimas escorrem num sem-fim.
Lembro, menina, do anel que tu me deste,
Não mais, nunca mais vai ter um dia assim.

Nos templos, vai no dinheiro a liturgia,
Nos campos, no mais, o fim de uma colheita
Se não lutasse, não sei o que faria.

Seria? Não sei, bem mais que uma desfeita.
Levanta! Te afasta de uma covardia.
Sim! E vem pruma briga mais-que-perfeita!


Francisco Settineri.

Dos portos, o Imperador

Teu corpo é meu porto, menina,
em que eu aporto sem temor.
Tremo em pensar que essa retina

Me julgue por ser pecador,
Pois de uma alma feminina
Apenas espero o calor;

Pavor de chegar em surdina,
Causar e bem mais que um rumor,
Pois eu te quero, cristalina,

Com brilho, pássaros e humor!
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Francisco Settineri.

O bardo enamorado

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Não consigo esquecer, na minha alma,
Calma imprecisa que tanto me avisa
Quanto de calma um poeta precisa
Pra esquecer o drama de quem te ama?

Panorama de quem não teve a ama,
E que o aleitou, e sempre improvisa
Que  fome se dá, e nem sempre avisa,
Mas sempre a berrar, a quem se reclama!

Assim, minha flauta não desafina,
Não consigo esquecer na minha alma,
Que se grava e cujo nome se assina

E nem tento apagar o grande drama,
Marcado a ferro e fogo em minha sina,
Celebro o amor que te tenho, menina!
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Francisco Settineri.

LANCEIRO

É assim que te vejo, em panorama
Indelével marca, mas de improviso
Sorriso que me tira todo o siso, 
E me convoca, assim mesmo, pra flama.

É drama que me fez cair na lama,
Jeito que que faz levantar indeciso,
Porém, isso me fez tornar preciso,
Ficar a noite inteira, amor e riso...

Pois que eu te quero muito bem, menina,
Com teu vestido azul e cor-de-rosa,
O teu olhar no meu a mim fascina.

Ai, menina, que eu fico todo prosa,
E a luz do teu olhar é o que alucina
Uns campos verdes e de ação gloriosa!


Francisco Settineri.

ADAGIO

Ouvindo a Sonata ao Luar,
Também a sonhar com teus lábios,
Ai de mim! Como vou te amar?

Na distância de apelos sábios,
Fragrâncias nesse ressoar
Afável e de nota hábil,

Porém, e nunca a presenciar
Teu sorriso radiante e núbil

Mas ah! O teu desencantar...


Francisco Settineri

INCÊNDIO

.
Eu não quero morrer, Maria,
Não agora, que a mente lúcida
invade a paz e a calmaria.

Porque eu não quero a cara flácida,
Não, eu não a quero, ó Maria!
Morrer no meio dessa ácida,

Túrgida, não, eu não queria,
Maria, sair dessa plácida,
Ávida, eu não sairia

Jamais do centro de tu'alma!
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Francisco Settineri.

Moonlight Sonata

.

Eu nunca te vi, Tati,
mas nunca tive escolha,
só te vi em sonhos tímidos.

Não ouvi espoucar a rolha,
nem senti teus lábios úmidos
e minha rosa se desfolha...

Tanto amor, ao vermos unidos,
pele a pele, na mesma folha,
lúcida vez, um dia dados

a voz e a paz que a manhã molha!
.

Francisco Settineri.