Encontro noturno.
Palavras doces.
O carinho é uma flor que não murcha.
Francisco Settineri.
Blog de poesia porto-alegrense. Poemas de Francisco Settineri. Thanks ever so much!
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Que importa venha a velhice,
Mais passado que futuro,
Tuas mãos buscam no escuro
E só encontram tolices...
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Pois que quando o sol abrisse
O brilhar da tarde, puro,
Te diria, linda, eu juro
Não há nada que fugisse
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Dessa têmpera audaz
Que te mostra em pessoa
E te toma e que te faz.
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A verdade inda ressoa,
Nada adianta ir pra trás,
Tudo é cíclico e fugaz!
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Francisco Settineri.
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Eu não quis ficar de lado,
Pois a valsa era de Strauss,
Dancem bem ou sejam maus,
Eu não quis ficar parado.
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Sem ficar em puro enfado,
Desci contigo os degraus
Lembrei do mar com suas naus,
À tua cintura apertado...
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Tocava a do Imperador,
Em sua suave ternura,
Restou longe toda dor
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Voltada ao vento a ventura,
Me senti o guardador
A girar nessa aventura!
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Francisco Settineri.
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Não deixes de lado este momento extremo,
A vida é feita de dor e de alegria
Será uma vida sem dor que queremos?
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Não deixes a vida parar, salve os remos
Que o movimento, então, te forneceria,
Não deixes de lado este momento extremo.
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Quando é muito interessante o que nós vemos
Constrói-se na mente uma alegoria,
Será uma vida sem dor que queremos?
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E súbito, nunca deixar que faltemos,
Quando a nova e bela voz já cantaria,
Não deixes de lado este momento extremo.
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O tolo pensa que tudo o que julguemos
Sadio, isso será uma sabedoria,
Será uma vida sem dor que queremos?
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Mas não será dessa vez que escaparemos,
Por belo que seja o momento, eu diria,
Não deixes de lado este momento extremo,
Será uma vida sem dor que queremos?
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Francisco Settineri.
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As ondas da manhã murmuram mansas,
Na praia em que revoa uma gaivota
E nos raios da alvorada ela brota,
Ela não sabe se plana ou se dança.
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Eu só sei que o dia a nascer não cansa,
Seu canto colhe no ar uma nota
E sempre a ave do céu a pilota,
Cheia de esperança ela se abalança...
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Nas minhas mãos escorre essa areia,
Que é divina e fina, porque é do mar.
Minh'alma sonha contigo e se alheia
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Como se fosse possível buscar,
Neste sangue que corre em minhas veias,
Um espírito indômito, a honrar!
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Francisco Settineri.
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O meu amor segue por ti, inabalável,
Pois do mesmo modo e com a mesma constância
Ele jamais se curvaria a qualquer ânsia,
Imita essa rosa em flor, que é inigualável.
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Ele tem a força de um metal inquebrável,
Exala um suave perfume, mesmo à distância
Mesmo as jovens belas invejam a fragrância
Que não se desfaz com os ventos e é amável.
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Minha voz, perto do teu sorriso, se abala
E esse bando que volta ao ninho se vislumbra,
Numa formação que se desfaz na cabala,
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Pois aproxima-se bem rápida a penumbra
Enquanto a espada da noite o sol apunhala
E o meu corpo no teu corpo se deslumbra!
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Francisco Settineri.
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Traga para mim esse corpo saboroso
Pois que eu não o tenho como impedido
Tenho por você um amor impetuoso.
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É atração por um íntimo imperioso
O que me deixa, então, como compelido,
Traga para mim esse corpo saboroso.
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Quem esteve perto não era ardoroso,
O seu sentimento era muito contido,
Tenho por você um amor impetuoso.
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O céu da madrugada era tenebroso,
E eu buscava aconchego, desfalecido,
Traga para mim esse corpo saboroso!
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Para além do horizonte há um mundo de gozo,
Que deixa o meu coração enternecido,
Tenho por você um amor impetuoso…
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Pois há na tua pele um toque sedoso,
E que jamais deixa o roçar ser temido,
Traga para mim esse corpo saboroso,
Tenho por você um amor impetuoso!
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Francisco Settineri.
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Bento e Vilma, Vilma e Bento,
Dois poetas, mesma sina,
Perto dele ela é menina,
Um casal sempre a contento.
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Eles vivem sem lamento
E o afeto não declina,
Nenhum deles se confina,
Perto dela toma tento
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Um casal da poesia,
Ela é a mais modesta,
Uma dupla da alegria,
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Ele canta e faz festa,
Canção nova ele procria,
Mas a Vilma o amor lhe empresta!
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Francisco Settineri.
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Não digas nada a ninguém,
Meu coração foi tomado
E caí desamparado,
Mas dolorido também.
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Cada um com a dor que tem,
Por ter sido abandonado.
Mais que isso, desdenhado,
Mas a morena não vem
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Dar-me uma esperança nova
De que triste não seria
Com sua abjeta magia,
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Que não cabe numa trova,
Que pra mim não haveria
Uma primavera nova.
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Francisco Settineri.
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Defronte a praça eu ouvi
Os sinos marcando a hora,
Chamando as gentes de fora.
E desolado eu senti
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Saudades tristes de ti.
Desde que tu foste embora
Faltou pra mim a senhora,
Da dor, de longe, fugi.
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Quando estavas no presente,
Eles batiam bem forte,
Tu tinhas sereno porte.
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Estavas na minha frente
E tu eras o meu Norte,
Pois de amor eras vertente!
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Francisco Settineri.
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- Leonardo da Vinci
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Teu olhar no teu silêncio é uma doçura,
É bem capaz de evocar o que é vital
De não deixar fenecer o corporal
Que se esconde mesmo dentro da clausura.
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Por isso é que se obedece a partitura,
Teu sorriso em teu silêncio é musical
E já chega perto do transcendental,
Livre, pois, de todo mal e da amargura.
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Mas que palavras o teu olhar me diz,
Que deixam a minha alma comovida?
Pois com que silêncio o teu olhar condiz
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Para que caiba nele toda uma vida?
Quero ser do teu olhar um aprendiz,
Ouvir todo o amor da minha prometida!
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Francisco Settineri.
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O silêncio, elaborado numa espera,
Que se torna ausente numa soledade,
Estaremos juntos nessa mesma esfera.
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O medo do nunca, que se faz fera,
É bem tolo, porque se fez sem maldade
O silêncio, elaborado numa espera.
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A presença da saudade, que já era
A esperança e a graça de uma bondade,
Estaremos juntos nessa mesma esfera.
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O silente, que na verdade dissera
Que só se busca assim a felicidade
No silêncio, elaborado numa espera.
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O tolo, que jamais tem noção deveras,
Ele não sabe nada sobre a verdade
Estaremos juntos nessa mesma esfera.
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E a nossa sorte nunca nos será megera,
Pois nós vamos esperar a nossa liberdade
No silêncio, elaborado numa espera,
Estaremos juntos nessa mesma esfera.
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Francisco Settineri.
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Há um quanto de alegria
Dentro da noite veloz,
Meu querer é mais feroz,
Louco e cheio de magia...
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Eu não sei se compreendia
Que a noite era um algoz,
Cobrindo com paletós
O fim do ocaso do dia.
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Não venhas, menina clara,
Com o teu olhar de Esfinge,
Mas com medo da dor rara,
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Com a flor que o caos atinge,
É ordem que um deus ditara
E o céu, obediente, cinge!
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Francisco Settineri.
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O teu rosto tão belo eu não esqueço,
Dos nossos passeios pelo jardim,
Até parecia não ter mais fim,
Mas, quando a tarde vai, eu anoiteço.
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Aparecem das cismas o começo
E os passos tão galantes no jardim,
Eles chegavam a seu termo, enfim,
Sonhando junto a mim o teu regresso.
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Esse namoro, que é gruta formosa,
Tempo de tecer uma companhia,
E são dias de trocas saborosas,
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Pois se esquecermos o amor de outro dia,
Nos abriremos pra misteriosa
Tabula rasa, e contente magia!
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Francisco Settineri.
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A tua pele está onde está escrito,
Enquanto no ar crepitam tuas fagulhas,
Tu escreves ao redor, com mil agulhas,
Pois há mais do que um poeta, e aflito.
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Muitos se encantam quando o milho debulhas,
Pois a multidão profere o antigo dito,
Onde o infinito delira esse grito,
Pois que nas tuas risadas tu borbulhas...
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Queria te ver ornada de jasmim,
Para sarar de vez minha nostalgia
E mesmo que a lua, ao nascer, já regia,
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Enquanto no leito jazia o cetim,
Eu me encantava co'essa tua magia
E sonhava trazer-te dentro de mim!
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Francisco Settineri.
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Alma minha que se foi, quando partiste.
As lágrimas escorreram pelas faces,
Eu sempre quis que fosse para sempre o enlace,
Mas sou o poeta cujo verso sentiste.
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Eu bebo vida e essa garrafa tu abriste,
Pois sem brindes e cristais, porém com classe,
Eu pensara que pra sempre tu me amasses,
Mas me dou conta de que resta o que é triste,
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Mas continua esse abandono dos braços ,
Talvez uma peça de roupa esquecida,
Pois segue em teu silêncio o miraculoso,
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O amor em abraços tornou-se cansaço.
E o que era bom desapareceu da vida,
Deixou há muito tempo de ser garboso!
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Francisco Settineri.
O adeus, e depois de dito,
Está pleno de tristeza,
Ainda que de surpresa
Deixa o coração aflito.
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Poema num manuscrito,
Despedida com crueza
E que dói pela aspereza,
Tem uns ares de infinito...
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Eu espero a tua volta,
Com a cândida ternura,
Que a minh'alma feria
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Sem um traço de revolta,
Nem a sombra da amargura,
Só desfeita por magia!
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Francisco Settineri.
Meu olhar febril te busca em cada esquina,
E é como fazer encontros ao acaso,
Deixar a vida aventureira, no ocaso,
Sem perfídia, sincera, matéria fina.
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Garota que gosta de ser feminina,
Eu nunca te trataria com descaso,
Só não gostaria de perder o prazo
De me dedicar ao teu amor, menina...
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Eu poderia te dar tanto prazer,
Pois eu sei conjugar bem o verbo amar,
Ficar abraçado até o amanhecer,
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Olhar o encanto do pôr-do-sol, no mar
E não deixar jamais o amor fenecer,
Nem te conheço e já quero ser teu par.
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Francisco Settineri.
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Júlia, o teu rosto já exala beleza,
Olha, ele tem esse ar misterioso.
Pois recatado, desdenha o vaidoso
Encher-se de si, e tendo a proeza
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De manter o corpo e a alma defesos,
E bem guardados numa fortaleza,
Total e plenamente uma firmeza,
Perfume que sai dos poros, ileso.
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Mas, de onde vens, para onde vais,
Será que é tomar o mundo por conta?
Vais rumar pela estrada ou para o cais?
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Quero te acompanhar e sem afronta
Contra o teu desejo de querer mais.
Mais não digo, pois a Musa está tonta!
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Francisco Settineri.
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Vem pra perto de mim, minha morena,
Com esses teus rebrilhares de estrela,
Eu nunca vejo a hora de revê-la,
Vem de uma vez pra mim, minha pequena!
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Gosto quando tu te mostras serena,
Eu nunca vejo a hora de revê-la,
Que será do meu sonho ao antevê-la,
Nos jardins amarelos de açucenas?
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Lágrimas atingem a tua boca,
Na qual ela guarda um sáfico verso
Onde jaz um pedaço de universo
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E que também reduz-se a uma toca,
Que é o controverso de uma maloca
E onde o meu coração habita, imerso!
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Francisco Settineri.
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Quero um pedaço da torre de Babel,
Para logo colocar no meu poema
E para que ele sirva de um grande emblema,
Quando, enfim, eu escrevê-lo no papel.
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Poeta não precisa ser bacharel,
Embora este não seja o seu problema,
Uma palavra pode ser o seu tema,
Chegar ao caravançarai e seu mel...
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Pois doce como os lábios rubros da amante,
Seu lindo olhar e misteriosa magia.
Diante dela não passarei de um infante,
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Sem saber o quanto dela é alquimia,
Sem entendê-la sequer por um instante,
Sorriremos juntos de tanta alegria!
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Francisco Settineri.
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Na poça d’água vejo do céu um caco
E já de longe já se ouve a cantoria,
Não sabia se me aventuraria
Nos vinhedos tão alegres do deus Baco!
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Eu pensava que a orgia era um buraco
De tal forma que ninguém mais sairia
Que deixaria no corpo uma avaria.
Porém, vendo o vinho na taça eu me aplaco.
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Desarmado, não tinha nem um punhal
Não sabia, enfim, que não era preciso,
Porque a orgia não tinha mais final
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E não se podia ficar indeciso.
Imperava o deus Baco, afinal,
Escorria muito vinho e nenhum siso!
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Francisco Settineri.
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Quando eu te vejo, ao luar,
Meu coração palpitante .
Não para nenhum instante
De bater e sem parar.
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Pois eu quero te beijar,
O meu desejo é arfante,
por demais interessante,
Colocar-te num altar...
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Mas os sinos estão quietos
E esperam a manhã,
Quando não serão discretos
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Como os pés da castelã.
Baterão bronzes diretos
Pela bela cidadã!
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Francisco Settineri.
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Alegria da minha madrugada,
Eu gosto muito de falar no ouvido,
Vou ser gentil contigo, e bem amigo,
Eia, pois! Eu te quero deslumbrada.
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Tu tens um quê de um anjo e de uma fada,
Flor da fronteira, eu não sei se consigo,
E passo os dias com versos que obrigo
A cantar mais tua elegância ornada!
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Teu rosto tem um sorriso macio,
Que passou por muitas e muitas dores
E um gênio bem dotado que aboliu
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As enormes incúrias dos temores.
A tua casa abençoada de flores
É uma alegria e um alento febril!
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Francisco Settineri.
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O teu rosto contém a palavra sonho.
A tua boca retém mais do que um verso
E os teus olhos me mantêm imerso,
Dentro do uníssono amor que componho.
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E na tua frente eu não sei se disponho
Da fala capaz de ser o reverso
Do que penso ser pra ti, controverso,
Do que da luz do luar eu disponho.
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A tua imagem no leito suntuoso
Guarda na imaginação a magia
De um tom pra lá de ardente e charmoso,
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Relembro os gritos que tu proferias
Num tom tão indecente, indecoroso,
Que encontrava no corpo a moradia!
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Francisco Settineri.
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Canto o amor, canto a alegria
De sorrir tão docemente,
Esquecer da minha mente,
Da romântica e sadia,
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Da canção que eu proferia,
Com a voz em tom ardente,
Que se dá como semente
Ao teu seio em maestria...
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Pois tu foste mais que um sonho,
A dourar a minha vida,
Muito mais do que disponho
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Na caminhada devida,
E os versos que então componho
São só teus, a prometida!
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Francisco Settineri.
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Ah! O portento do teu lindo olhar
Deixou meu pensamento incandescente,
As luzes se acenderam em minha mente
Estrelas fogosas em seu brilhar!
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A lira calou, e eu fiquei sem ar.
E a boca imaginou alma vertente,
Ela conteve um verso qual pingente,
Detido nas primícias do luar.
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Com que luzes atravessar a bruma
E chegar na delícia de tua face?
Eu a imagino como nenhuma
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Outra que um poeta já tanto amasse,
Uma face que se desfaz da espuma
E pede às minhas mãos que a abrace!
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Francisco Settineri.
. Fim da tarde, o sol se esconde, E, por fim, a lava escorre Deste Etna que não morre, E que vai não sabe onde... . O fogo parece fronde. ...