domingo, 6 de novembro de 2011

Soneto do Encontro




Na hora em que te vi, abriu-se a chama
Que espalha a luz na noite da cidade.
E se o meu peito agora inda se inflama
É que demais te adoro, com vontade.

Alças e nós desfeitos, plena cama,
Belo roçar de corpos, sem maldade...
Na hora em que vi, abriu-se a chama
E ardo em teu amor, felicidade!

Fizeste do teu corpo o meu recanto,
Na alma que se move, renascida...
Em raios de esplendor, jogado o manto

Na dor que se afastou, desvanecida;
Janela que se abriu, tu és o encanto
Que chega para mim, mudaste a vida!


Francisco Settineri.

Soneto do Desprezo




Louca d’amor, tão lânguida e vencida,
Nem lembra a convencida, desalmada
Que me lançava à lágrima dorida!
Agora vens tão terna e deslavada

Falar que me amas mais que a própria vida.
Hoje tu me dizes, mais que encantada
Que a tenho inteira, e fica agradecida
Se suspeitar que ainda a quero, amada.

Desejo a musa decadente, ingrata,
Já desfeita, a meus pés, mulher sofrida.
Se o meu corpo, de ti, ora se farta

Segue contigo o inferno da descida:
A dor de ser só minha inda te mata,
É assim que te quero, nua e batida!


Francisco Settineri.

sábado, 5 de novembro de 2011

Soneto do Amor Sereno




Amo-te co’a calma de altas palmeiras
E na alegria de cada momento;
Amo-te, balançando ao terno vento
E no crepitar de imensas fogueiras.

Porque a ventura de vidas inteiras
Pra mim foi alongada, em passo lento,
Meu amor por ti cada dia invento,
E no amanhecer abro novas leiras!

Mas há um quê em teu olhar de fada,
Misto de um todo no qual eu me inundo,
Que é certeza, e ao mesmo tempo é um nada,

Despe o meu ser, e me faz ir ao fundo.
Riso infantil, que me serve de escada,
O teu sorriso é um resumo do mundo.


Francisco Settineri.

Lavra



As auroras mansas trouxeram teus olhos, amada,
Resistir, quem há-de?

Morena, a vida é tão triste.
Eu só quero olhar o teu rosto
E não dizer mais nenhum verso.
Só quero abraçar teu corpo
Na demorada noite
E acordar de madrugada.

Fechar de novo os olhos
E correr a mão por teus cabelos
Na imensidão, na imensidão desse sonho que renasce.
E, no entanto, estou tão cansado...

A vida é tão triste, morena!
Mas nela a luz irrompeu por completo.
Na ternura das tuas mãos ela ainda pode ser.

E depois, o que seriam dos meus olhos
Sem poder te ver por inteiro?

Meus vulcões riscaram a noite em rios de fúrias alaranjadas
Que correram densas pelos montes.
Ficaram pedras, morena, ficaram lavas.
Na noite insone fundimos um corpo novo, em prata.
Corpo em que tu me lavras, e eu te cultivo.

Francisco Settineri.

Trinados



- Ai! Morena, não vá mais lá, não!
Pois se vai para tão longe,
o que será do coração?
- Ai! Poeta, não me faça assim!
Pois se acaricia tanto as letras,
o que será de mim?

Francisco Settineri.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Soneto Cor de Prata




Eu vou escrever, tremendo, só pra ti
Os meus mais belos versos, bem prateados,
Falando dos amores que eu vivi
Nas noites que passamos, acordados...

Pintarei arrebóis em maravi,
E cantarei teus cabelos molhados,
Co’o suave trinar do bentevi
Que nos deixou em êxtase, alados.

Eu cuido pra que não os leve o vento,
E meus versos estarão bem traçados,
Pois se por ti eu já perdi o tento,

Para ti torneei sonetos lavrados...
Tomo-te em valsa em cada vão momento,
E os nossos céus sempre estarão mudados!


Francisco Settineri.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Canção da Mata



Nas matas onde enlevas, no momento,
És ninfa que passeia, bailarina,
Co’a lua em par, como divertimento,
Ao fundo, como flores na campina.

De louvores é cada paramento
E tudo o mais que esta canção ensina.
Coração em cordas, a flauta ao vento,
Leito de palha em trova fescenina,

E voam borboletas e joaninhas.
Aqui meu corpo jaz, não tenho medo,
Enquanto no meu colo já te aninhas,

E eu rolo pela relva, e quero cedo,
Na tarde coalhada de andorinhas,
Deitado em áurea paz, ser teu brinquedo.


Francisco Settineri.

O SOM DO SILÊNCIO

.   Fim da tarde, o sol se esconde, E, por fim, a lava escorre Deste Etna que não morre, E que vai não sabe onde... . O fogo parece fronde. ...