domingo, 9 de abril de 2017

LIRA DOLORIDA





Cheio de tristeza
Daquelas que custam a passar
Às vezes, passam amanhã,
Às vezes, não passam nunca...

A velhice vem devagarinho,
E nos deixa desavergonhados.
Cada degrau da escada
É doloroso demais,
E um escorregar pode ser uma ferida.

Uma ferida a mais,
Parecida com a que temos
Ao ver uma fotografia antiga
Em que sorríamos
E os nossos filhos eram bebês de colo.

Lembra-te, corpo?
Quando nas janelas vicejavam
Os agapantos da manhã,
E os cactos eram rijos e floridos?
E eu tomava o teu corpo e a tua nudez,
E nem sequer imaginava e não antevia
A solidão de agora.

A solidão, amiga, é o que resta.
A solidão foi o que ficou.

A solidão, agora, é o meu salário...
Meu doloroso salário!
A minha fétida antítese!


Francisco Settineri.

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