terça-feira, 18 de outubro de 2011

Sereia




Nasci pro escuro sonho de uma ausência
Quando me olhei no céu do teu sorriso,
E se me vi lutar co’ essa premência,
Eu nunca fiz as vezes do indeciso.

Se tanto amei teus olhos de improviso,
Muito te quis pra mim, e sempre urgente,
Corrias, escapando sem aviso,
Fugias só de mim, tão insurgente.

E eu, que já exausto sobre a areia,
Penava, em tua ausência embaraçada,
Colho-te, em pleno mar, numa cadeia...

Tu paras de fugir, descompassada,
E vens, com esse teu jeito de sereia,
Bem presa em minha rede, amordaçada.


Francisco Settineri.

Estudo para uma Dama



Bem na hora em que te vejo, mulher, és flor
Envolta nas curvas de um vestido de prata.
Se meus braços te perseguem é porque, grata,
Recebeste em paz meu desejo e meu ardor.

Retira as vestes, atrevido destemor!
E deixa que minhas mãos percorram a mata
Do que já deste para mim, em prenda incauta.
É quando eu vejo a aurora debruar de cor,

Depois dos embates, em plena noite túrgida,
O desenhar-se, em nítida aquarela, do tema.
Em mananciais de luz, bordados na tez cândida,

Resolve-se, em tua pele, o breve teorema:
Ao envolver teu corpo em densa forma, esplêndida,
Um raro silêncio enlaça a névoa do poema...


Francisco Settineri.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Silêncios




Mulher, que tens o olhar tão inocente,
E a flor, em tuas mãos, mais colorida,
Trazes frescor ao coração, recente,
Ao despertar uma ternura havida.

Sem mais, em uma ânsia desabrida
Eu tomo, nesse laço incandescente,
A tua noite, em abraço de partida.
Silêncios de um sorriso comovente,

Tomados num sem-fim de fé primeira
E tidos num império, de repente,
A sentir a promessa alvissareira

De fazermos crescer o que é nascente.
Amar o ser da paz mais derradeira,
E, mesmo em tua ausência, estar presente.


Francisco Settineri.

domingo, 16 de outubro de 2011

Genuflexa



Eu pus, no meio da noite convexa
Um freio em teus temores indolentes,
E a fantasia, em floração perplexa,
Lançou a ti olhares delinqüentes.

Plantei bem fundo em ti minhas sementes,
E tu te deste a mim, tão genuflexa,
Para deixar, de teu amor, patentes
Ardores de uma fala desconexa.

O amor, em cadeias, pede alforria
Em meio a tantos pulsares arfantes,
Raízes fundas, vindas da alegria

De calores do passado, dormentes,
Corpos entrelaçados, liturgia
De gritos de pecar impenitentes.


Francisco Settineri.

Encontro Marcado




Encontrei essa mulher
Na curva do meu caminho
Segurando um mal-me-quer
Vestida de puro linho.

Eu não pude nem sequer
Conter o meu desalinho,
Imagino, se puder,
Daqui não seguir sozinho.

Mas era quando calava
Que mais apontava a senda,
Quando desfazia a trava,

Dava-se como oferenda.
E disse que me gostava:
Quero de novo essa prenda!


Francisco Settineri.

sábado, 15 de outubro de 2011

Paixão Vadia




Eu quis beijar-te assim, na incerteza
De uma paixão que já nasceu vadia
E abraçar-me, forte, na ventania
De teu corpo, que agarrei com firmeza.

E tu me olhas assim, co’ essa leveza,
Pensando ainda no que eu te faria,
Nos teus mamilos, a minha alegria,
Em tuas pernas tenho a minha mesa.

Mas nos defrontamos, em pele e pelo,
E cada um de nós sabe dos ritos.
Se eu te tomo, em gozo, pelo cabelo,

É que te apraz, penetrada e aos gritos,
Dar-me mostras disso, por puro zelo,
Temos pouco tempo, pra outros ditos...


Francisco Settineri.

Bálsamo




É tão duro te ver sofrer, bela menina
Em tantas agruras de dor, em claro drama,
Sentir o travo amargo que só a vida ensina,
Vestir o véu sombrio que na ausência se trama.

Mas, se neste claro céu meu olhar domina,
Em teu corpo vibrante minha vista inflama
O que, nas minhas veias, ferve e desatina.
E te perguntas, exausta, sobre tua sina,

Ao que posso responder, com toda a presteza,
Que as dores mortais só te levaram ao páramo,
Mas não te despiram, em toda a tua beleza.

Se a presença do amor abandonou o tálamo
E a vida tratou-te com indelicadeza
Quero lambuzar-me no mel de ser teu bálsamo.


Francisco Settineri.

O SOM DO SILÊNCIO

.   Fim da tarde, o sol se esconde, E, por fim, a lava escorre Deste Etna que não morre, E que vai não sabe onde... . O fogo parece fronde. ...