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A juventude está perdida,
Mas o amor não morre jamais.
Mesmo depois da tua partida,
O corvo disse - nunca mais!
Agora, Lenora, que és ida,
As perdas ficaram reais.
Eu queria te ver erguida,
É porque eu te amo demais...
Mas eu sei, foi muito, Lenora,
Eu ver-te doente, abatida,
Tu que sempre foste a Senhora,
Meu acalanto e prometida,
Da escura noite até à aurora:
Serás, Lenora, a bem querida.
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Francisco Settineri.
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A tarde cai, e o teu rosto me lembra
Das primitivas noites ao luar,
Dos teus belos cantos a me embalar.
Pois quando todo o mal, eu sei, se arranja
E a angústia de viver assim se acalma,
E tudo volta, assim, ao seu lugar,
Mas não há nada ao céu a disfarçar,
Unida que fica a disjecta membra...
A boca e os braços trazem risos,
Sem nunca disfarçar grande alegria,
Aqueces com teus braços noite fria,
Brincamos ao ocaso em falto siso,
Deitamos na fina tapeçaria,
Esta é a nossa versão do paraíso!
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Francisco Settineri.
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Procurei por toda parte,
Vasculhei pela ribeira,
Não achei a companheira,
A segui com toda arte.
O verso é meu baluarte,
Levantei muita poeira,
Não a achei na cachoeira,
Talvez ela esteja em Marte.
Eu só a vi uma vez,
Mas deve haver um caminho
De eu te achar com a placidez,
De eu te achar muito mansinho,
Sem nada de timidez,
Porque a vida é um torvelinho!
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Francisco Settineri.
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A noite avança e não vejo à janela
Pois hoje a Via Láctea já não brilha
As cidades formam horrendas trilhas,
Com essas luzes que não são nada belas...
Estrelas não precisam de tutela,
No ar sinto um cheirinho de baunilha,
Fixo o olhar na tua gargantilha,
Fizeste dos teus lábios a capela
Na qual não pode faltar brilho aos olhos
E a prece das tuas mãos não é distante
Das praças que continuam escuras.
Tu já és a menina dos meus olhos,
Eu que passei, sim, por horas duras
E agora volto aos teus pés qual infante!
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Francisco Settineri.
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Feroz e um tanto claro, como ele quer ser,
E mesmo que esta noite rude seja amena,
Ele vê a sua mente assim crescer,
Por mais atormentado, em calma serena,
Entretanto, pois, por mais que este nascer
Seja a força do teu peito, e alma morena!
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Francisco Settineri
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Hoje choveu bem fininho
Nas ruas de Camaquã,
Mas não estava sozinho
Como quem não tem irmã.
Procurei novo caminho,
Quero tranquila a manhã,
Ver o povo ribeirinho,
Eva, a serpente e a maçã...
Procurar minha metade
Num caminho sem espinho
E cheia de majestade.
Dar-lhe uma flor, um carinho,
Versos sem dificuldade,
Coração no torvelinho!
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Francisco Settineri.
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Não há nada que me faça ir embora,
Nessa arte dos meus versos de aprendiz,
Seja a sombra, seja o vento, seja a aurora.
E saber desta saudade que aqui mora,
Não me exilei do meu pago porque quis,
Não há nada que me faça ir embora...
Eu me apoio nessa letra que explora,
E me livro da doença por um triz.
Seja a sombra, seja o vento, seja a aurora.
Pois sou da cidade grande, não de fora,
Por isso o meu olhar triste, infeliz,
Não há nada que me faça ir embora.
É por isso que esta canção que aqui chora
Me empurra presse tema da cicatriz,
Seja a sombra, seja o vento, seja a aurora.
Portanto, morena, espera, não demora,
Em Porto Alegre está fincada a raiz,
Não há nada que me faça ir embora,
Seja o vento, seja a sombra, seja a aurora!
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Francisco Settineri.
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Eu ouço a tua voz na madrugada,
Depois do ocaso de um dia lindo
E o temor de pensar no amor infindo
Me faz entrar de frente em tez dourada.
E faz pensar nos passos da chegada
Do brilho do teu olhar, tão bem-vindo,
A aurora prepara esse ar luzindo,
E eu tremo a lembrar da voz da amada.
O Norte a orientar a minha nave
São as mãos que tu me dás ao relento,
Mãos que amenizam o sofrimento,
Elas são, pois, da minha alma a chave,
A luz, o céu, o mar e o sacramento
E tocam minha pele, assim suave.
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Francisco Settineri.
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Um verso da minha lavra
Abre um mundo à tua frente,
Ele é feito de palavras,
Não há nada que desminta
Eu tocar no que tu sentes.
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E não há o que ressinta,
Mesmo quando tu me mentes,
Desfazia as tuas travas,
Redondilhas excelentes,
Para ver se tu me amavas!
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Francisco Settineri.
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Inútil tentar te esquecer, gracilinda,
És lembrança preciosa na minha vida.
Porque, apesar de estar desfalecida,
A tua chegada é esperança bem-vinda.
Pois foi quimera que surgiu mais que linda,
Temia que ficasse desfalecida
Que a dor de amar ficasse, eu sei, incontida,
Ficou teu sorriso, eis que a festa finda...
Mas eu não precisava ficar assim,
Um velho e triste vate, amargo e saudoso
De um antigo e zeloso e belo jardim,
Onde, mãos dadas, o beijo primoroso
Ficou gravado na memória, e, enfim,
Foi banido da minh'alma o doloroso!
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Francisco Settineri.
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Trago comigo, e não tem mais jeito,
A imagem de teu rosto de menina,
Ornado de brilhante purpurina,
Com um sorriso cheio de trejeitos.
Mas do que será que esse amor é feito?
É claro, pois, de uma matéria fina.
Então, quanto mais ela se refina,
Mais ela parece um amor-perfeito.
Mas brindamos juntos, entre cristais,
Entre nós dois nada há de vedado.
Tudo é natural, não há nada mais
A não ser, senão, este olhar trocado,
Minha retina tem na tua um cais,
Há, na dança, um cravo bem temperado!
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Francisco Settineri.
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A força do teu brilho é mais do que cegante
E faz com que eu tenha por ti tenaz pendor.
Tuas mãos, tão delicadas,como a rosa infante,
Acarinham de longe a minha pele em flor.
Ontem a minha lira se tornou amante
De uma pequena frase a provocar ardor.
Tu chamaste o meu poema de apaixonante,
Tiraste um cravo do meu coração, sem dor!
Desconsolado, eu já me escondo, e na treva
Eu repouso na pouca paz que o amor consente,
Mas uma canção me traz, me conduz e leva.
A buscar a tua imagem na minha mente;
Saio do paraíso com a minha Eva,
De olhar com o condão de me deixar demente!
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Francisco Settineri.
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Estarei sempre a teus pés, docibela,
Que me faz escrever com mão gentil,
A mesma mão que pinta uma aquarela
Onde tu surgirás, com cores mil...
Por onde passas, o tempo congela,
É quando eu descarto tudo o que é vil.
Com flores nas mãos, te deixas na tela,
Refletida nas margens deste rio.
Pela janela posso ver a messe
De uma primavera que não descansa.
O colorido ocaso do sol desce,
Predestinando a bela lua mansa,
A dizer o teu nome numa prece,
Num sussurro em que a Natureza dança!
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Francisco Settineri.
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O lirismo dos teus olhos
Jamais na vida desmente
O que surge em minha mente,
Uma praia sem escolhos...
Uma árvore com galhos,
Sob a luz do céu poente,
Aponta, e nada desmente,
A lisura dos cascalhos.
Porque sempre tu me inspiras,
No ocaso em que deslizo,
E se acaso este piso,
Essa fonte, essa pira,
É demais o que eu aliso,
A paixão que me respira!
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Francisco Settineri.
