Quando
Deus inventou a mulher
inventou
também a coxa.
Mas
não a tirou de uma costela:
A
coxa veio do nada,
Do
Caos da era do Gênesis:
Deus
criou a coxa,
E
viu que era boa!
E
a inventou em português,
antes
que alguém a traduzisse
ao
hebraico.
(Em
que língua Deus falou com Adão?)
Nada
mais heroicamente brasileiro
do
que uma coxa.
Nada
mais adolescente do que perscrutar escadas
Nada
mais falsamente modesto do que a moça
puxar
as saias, num gesto rápido
e
envergonhado
para
que elas não apareçam tanto.
Tento
encontrar uma coisa que o prove
Mas
mesmo que o decassílabo invada
A
rara placidez do meu verso livre,
Volto
a Deus, em sua obra, em sua ira.
Claro
está que não as fez nas coxas
Teve
um trabalho infernal
Para
dotá-las de uma forma
e
de um nome
Soletrado
tantas vezes
por
um Drummond encabulado.
Que
deixe os jovens atormentados
E
as moças cheias da certeza
de
que mantém um segredo do Universo!
Coxas
grossas, mãos macias e pitangas,
Meninos
Faceiros
como lambaris na sanga!
Francisco
Settineri.
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