domingo, 7 de junho de 2020

COROAR-TE DE ROSAS



BELA MENINA

Volta, menina, da montanha de dor
E vem celebrar tua grande vontade
Sem perder por um segundo a amizade
E viver séria, nos mistérios do amor.

Sejas tu mesma, destemido esplendor
Sem deixares, nem perderes majestade
Mantendo contigo as tuas  qualidades
Sem mais nada que não seja um amador.

Por último, eu sei, será o cumprimento
por escapares do sestro encantador
Isso será para ti o sacramento

Que não irá nunca tirar-te do ardor
E quero, sem nenhuma dó, nem lamento
Retomar-te, em destemido esplendor!


VITORIANA


Te retomar, em destemido esplendor
É tudo o que eu te ofereço, menina
Viver em cândida paz o amor ensina
Volta pra mim sem mais nada e sem pudor.

Das tuas dúvidas serei domador
Do que eu ainda não sei a arte ensina
E a tua alma, formosa e feminina
Vai-se alimentar do alto da colina

Dos meus versos, em aguerrido e tremendo
Furor, que da lira fere a tua retina
Nessas lágrimas as faces escorrendo

Formarão um templo novo que extermina
Tudo aquilo que não passa de horrendo
A fazer nascer nova flor cristalina!


PÉ ANTE PÉ


A fazer nascer nova flor cristalina,
Mas o que ela mais quererá em sua vida
Nunca será mais uma flor indevida
Que se submete ao querer de uma menina.

Pois amor primeiro é amor que a ensina
Que nada no mundo a teria perdida
E nada a poesia desfalecida,
A figura feminina na neblina...

Pois se tu, menina, soubesses o quanto,
Quanto eu queria te ver, pé ante pé,
Acenderes minha pobre chaminé

Eu de pronto te veria sem teu manto,
Com seus cabelos cheirando a aloé,
Beberia todas águas do teu pranto!


MENINA EM FLOR


Beberia todas águas do teu pranto
E os teus olhos, da cor da maravilha
Mas ornado o teu colo de gargantilha
Brilham mais que a canção do acalanto

As tuas mãos, que me provocam claro espanto
Me convocam a seguir por essa trilha,
A lira me convoca a fazer a pilha
Mas de versos a sonhar neste meu canto.

És bela como estela na minha tela,
 Mas a luz que te secunda é a semente
A que faz com que eu delire impenitente

E que faz com que eu te espere na janela.
Mas as noites em que sonho com a donzela;
Menina-flor, como eu sou impertinente!




 QUERO TE SABER


Menina flor, como sou impertinente,
Me deixas tão encantado com tua luz
E a candura com que ela assim traduz
A deixar que me sinta, enfim, demente.

Nada que seja, precipitadamente,
Duro como aço, mas que me introduz
Na candura que ela assim traduz,
A tua alma, que assim não desmente

A minha voracidade de aprendiz.
Não há nada de verdadeira tolice
No que acompanhar até à velhice,

Não há nada neste mundo que o desdiz.
A saudade que eu tenho da meninice
É da menina bela que eu sempre quis!


CERÂMICA


É da menina bela, que eu sempre quis,
O meu coração cheio de cicatrizes,
De outras batalhas, às vezes felizes,
Porém nunca desprovidas de verniz.

Eu sempre serei, prometo, um aprendiz.
O meu coração, cheio de cicatrizes,
Afasta o burguês que mastiga perdizes
E deixa no meu peito um traço feliz.

Feliz por sempre e sempre encontrar donzela
Que é, pras minhas feridas, o balsâmico,
Entre todas as meninas a mais bela...

E que torna os meus versos o mais dinâmico
Manancial que aos borbotões preenche a tela
Onde pinto a tua pele em tom cerâmico!


 EU QUERO

Onde pinto a tua pele em tom cerâmico,
Para realçar os graus da tua alvura
Esboço os tons de branco que porventura
Deverão secar no rosto o panorâmico.

Eu nunca serei um reles poligâmico,
Tratar-te-ei sempre com muita ternura,
Mas esta há de ser a enorme ventura
Abraçar-te num enlace monogâmico.

Tu serás sempre pra mim a Majestade
Meu clarim, meu cetim e o já escrito
Clamas por inteiro, e não pela metade

E pretendes que eu seja irrestrito.
Queres ficar, menina, na qualidade
De um poeta que te ame ao infinito!


 DA MENINA OS BEIJOS


De um poeta que te ame ao infinito
Só podes esperar, pois, que te comova
Ate às lágrimas que te escorrem, novas
Representantes de um olhar já aflito

E que beirem a liturgia de um rito
Que se renova, até á beira da alcova
Onde eu receberia tremenda sova
De gritos, olhares, beijos, eruditos

Sinais de que o amor não terminará,
Desde que os deuses assim o estipulem.
Mas, menina, os deuses que não o decidam

Nada, mas nada disso acontecerá
Nada impedirá que dois seres se amem
Pouco empecilho haverá se os dois recitam!


 O CASTELO


Pouco empecilho haverá, se os dois recitam
Entre si os famosos poemas belos,
Enquanto eu corro a mão pelos cabelos
E os corvos invejosos já crocitam!

Olho para tuas mãos que já celebram
Nosso canto como manto tão singelo
E jamais terei uma outra, em meu castelo,
Os lacaios que estão perto se afugentam.

Pois é teu, somente teu, o meu castelo
E as agruras que passei já afastadas.
As flores que plantei já estão amarelas,

E afasto o olho grande com o cutelo.
O beijo dessa menina é sempre anelo
E eu pinto com minhas mãos a vera tela!


 MENINA AQUARELA


Eu pinto, com minhas mãos, a vera tela
Essa tela que se esmera em contracanto.
Para os olhos da tola, isso é um espanto,
Contra isso todo néscio se rebela...

A inveja torna-te ainda mais bela,
Isto para mim ainda é sacrossanto
Que também não se desfaz com um quebranto,,
Pintada ao sol, feito uma aquarela!

Tua pele é tão branca como um marfim
Gosto quando tu te desfazes em risos.
Teremos, ambos, o cheiro do alecrim.

Não nos importaremos com os sorrisos
Teremos também o cheiro do jasmim,
Seremos ambos faltos de prejuízos!


 OLHAR QUE ME FASCINA

Seremos ambos faltos de prejuízo
Se nos afastarmos da iniquidade,
Não seremos mais do que celebridades,
Se  nos mantivermos perto do juízo.

Se cair no mundo o peso de um granizo,
Precisaremos de solidariedade;
Se tivermos todos a sagacidade,
O indeciso, improviso, preciso...

Quando tiver nas mãos a minha menina,
Cuidarei do seu corpo, cada pedaço.
Ouço em tua voz uma vez feminina,

Em cada tom de luz e em cada traço.
E se tomas os cabelos em um maço,
Inda mais bela, o teu olhar me fascina!


 FASCÍNIO


Inda mais bela, o teu olhar me fascina,
Me convida a passear no meu jardim.
Quando nós dois cansarmos, eu sei, no fim,
Iremos então voltar, minha menina.

Mas os teus segredos, tu vais e me ensina,
numa mesma e bela charla, num sem-fim
De carícias e juras de amor, enfim,
 Eu vidrado na tua íris cristalina.

Pois que o meu amor por ti, minha morena,
Fará com que o coração fique partido,
É também o meu castigo e minha pena.

Porém, assim eu fico desiludido
Ao olhar, minha menina, pra serena
Emoção que já me tem desfalecido.



 VELAS AO VENTO


Emoção que já me tem desfalecido,
Ta dou, porque também creio que mereço
E também porque a prenda que te ofereço
Era minha, desde que fui concebido.

Meu amor, que já é de muitos conhecido
É sempre teu, na partida e no regresso,
Porém, se um dia alguma coisa eu te peço,
É o teu olhar, que me deixa aturdido!

As tuas mãos, que se estendem como a vela,
Abrem-se como se estivessem no mar
E tua voz, como tudo o que se revela

Volta-se às ondas, como que a cantar
Os belos e fortes piratas helenos,
Eles se lançam, sim, sem titubear!


 IMENSIDÃO



Eles se lançam, sim, sem titubear,
Eles nunca têm medo das altas ondas
E se utilizam das ricas, velhas sondas
Pra que possam navegar em pleno mar.

Também gosto de entrar no alto mar
E lançar meu molinete pelas ondas,
Olhar o horizonte e ver as redondas
Linhas sem fim, ao infinito confiar...

Olho a imensidão, e a imensidão me olha.
Assim, os teus olhos são a imensidão.
Vai nas alturas imponente condor,

Animo outra vez a rosa que desfolha,
Adiando, afinal, a exoneração:
Volta, menina, da montanha de dor!
.

Francisco Settineri.

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